Somos ensinados, sob uma ótica capitalista, a enxergar o mundo como uma maratona incessante de tarefas a serem cumpridas. A produtividade virou moeda de valor, e a crença de que só seremos importantes — para os outros e para nós mesmos — vem atrelada à uma lista interminável de afazeres.
Cada meta alcançada nos traz um breve sentimento de orgulho. Mas, até que ponto essa felicidade é genuína? A casa impecável, a reunião concluída, o quinto livro devorado, a alimentação perfeita... e, no fim, o que nos resta? A verdade é que essa sensação de completude é efêmera, porque não dá para fazer tudo, não o tempo todo.
"A maior coragem é ser fiel a si mesmo, em um mundo onde todo mundo tenta fazer você ser outra coisa." – Ralph Waldo Emerson
À primeira vista, estar ocupado e fazer coisas que nos fazem bem parece ser algo positivo, não é? Mas o verdadeiro dilema surge quando nos perguntamos: quem decide o que realmente merece o nosso tempo? Não me parece certo permitir que outras pessoas nos digam como devemos passar nossos dias.
Será que o segredo para felicidade está em acordar para correr às cinco da manhã, ou em apressar a leitura para alcançar a próxima página? Será que o esforço constante para ser organizada é, de fato, mais benéfico do que prejudicial? Somos humanos, e o caos faz parte de nós. Ele só se torna um problema quando permitimos que nos devore, ou quando fazemos de tudo para suprimi-lo
Nessa busca frenética por ser tudo, me vi soterrada em uma avalanche de tarefas não cumpridas e hábitos esquecidos, que me seguiam, tal como sombras, em todo caminho que tomava. A cada deslizar do TikTok, me deparava com dias que pareciam ter o dobro de horas dos meus, como se houvesse um segredo do qual eu não tinha pleno conhecimento. Em que eu estava errando?
Queria tanto fazer tudo, que acabei parando de fazer qualquer coisa. Caí em um abismo onde o desejo de ser mais e a autodepreciação se tornaram mais confortáveis que a ação concreta. Negligenciei até as coisas que mais amava: os livros, os filmes, a escrita. E tudo isso por quê? Por uma promessa de felicidade que nunca se moldou à minha essência.

Você não pode assumir que o que faz os outros felizes trará o mesmo para você. Estamos aqui por um tempo tão breve, e seria um desperdício preenchê-lo apenas com o que não aquece sua alma. As obrigações existem, mas a vida não se resume a elas. Também precisamos do silêncio, do descanso, de escutar nossos próprios anseios e permitir que tenham espaço em nossas vidas. Encontrar equilíbrio entre o que é necessário e o que nos move é o caminho para viver em paz e celebrar até as menores vitórias.
Quando finalmente adquiri esse discernimento, decidi adiar algumas obrigações e, pela primeira vez em muito tempo, retomei o que realmente me fazia bem. Reli meus livros favoritos, voltei a ouvir podcasts, reassisti filmes e escrevi o meu primeiro texto para cá. Ainda não acredito que estou completamente 'curada' dessa produtividade compulsória, porque é algo tão intrínseco que não se exorciza em alguns poucos meses. Mas, com calma, estou moldando uma rotina, sob parâmetros pessoais, que respeita os meus limites.
Decidi compartilhar esse relato porque é algo que eu gostaria de ter lido na época em que decidi mudar. Hoje, tento fazer tudo o que gosto, o que preciso e o que posso, mas não mais o tempo todo. Afinal, até as almas mais determinadas necessitam de descanso.
Texto mais que perfeito 👏🏼
Que bom que compartilhou! Eu precisava ler isso 🫶